sábado, 21 de novembro de 2009

DE MALA E CUIA EM BERLIN

Buenas Buenas Moçada!

Na primeira semana de novembro tive o grande privilégio de passar 3 dias numa das mais emblemáticas capitais europeias. Estou falando de Berlin, a cidade que passou pelas maiores transformações políticas e socias do século passado.
Apenas para situar o amigo que não conhece bem a história dessa cidade, Berlin esteve, por 28 anos, separada por um muro que dividia em leste e oeste a capital Alemã. O muro era muito mais do que um simples divisão territorial, o muro simbolizava uma divisão de ideias, de pensamentos... uma divisão de valores que eram predominantes no período da Guerra Fria... o muro dividiu a cidade e o mundo em dois blocos: um capitalista liderado pelos Estados Unido da América e outro Socialista liderado pela União Soviética.
Essa explicação é necessária para que o amigo compreenda o que esse muro representou e as feridas que ele ainda deixa por lá, levando em conta que o muro foi derrubado em 1989... apenas 20 anos atrás... ou seja, a história é muito recente.
Também não podemos esquecer que Berlin foi a capital que protagonizou a ascenção do regime Nazista, sendo sede do governo de Adolph Hitler (aquele que copiou o bigodinho do Chaplin).
Chega de aula de história!
Isso tudo foi só para dizer que a beleza de Berlin reside justamente no fato de ter sido destruída e reconstruída tantas vezes. Ela é bela por que sobreviveu, por que seus prédios históricos ainda estão lá (mesmo que a grande maioria já tenha passado por reformas). Ela é linda por que não se importa de recomeçar tudo de novo, não se importa de derrubar os muros que forem necessários para seguir em frente e contar ao mundo sua história.
Deixando de lado o apaixonado pela história e assumindo a visão de turista (é impossível ambas andarem separadas em Berlin de qualquer forma) a cidade possui um sistema de trens e metrô muito bom. Você pode comprar um passe para andar de trem e metrô o dia todo por €6,10. Com certeza você vai precisar disso por que achei alguns pontos afastados uns dos outros e o turista precisa ganhar tempo em tudo!
Se for fazer a pé o seu roteiro por Berlin, acredito que vais caminhar bastante... isso que estou falando da região central.
Quando fores para Berlin o amigo não pode deixar de ir:

PORTA DE BRANDENBURGO: Um monumento na praça central da cidade um espécie de arco do triunfo. Não é a coisa mais exuberante do mundo. Mas ir a Berlin e não tirar uma foto do Portão e como ir a Bahia e não comer acarajé!
O PARLAMENTO ALEMÃO: Esse, diferente do portão, me chamou mais a atenção pela arquitetura e grandiosidade do prédio. Fica próximo ao portão podendo o turista se deslocar a pé até ele. A entrada é "di grátis", e o turista pode pegar um elevador até a cúpula do parlamento e ter uma visão muito bela da cidade.


O MURO DE BERLIN:
O muro de Berlin está situado numa região um pouco mais afastada do centro, mas pode ser acessada facilmente através do metrô. A cidade decidiu deixar alguns kilômetros do muro ainda em pé para fins turísticos. De qualquer forma ele está lá, contando um pouco da história recente do mundo no contexto da Guerra Fria. Você vai encontrar muitos pedaços do muro á venda nas lojas de souvenires por preços que variam de €4,5 até €60 (com €60 eu consigo construir um muro inteiro lá em casa... maldito valor histórico! hehe)



O MEMORIAL AS VÍTIMAS DO HOLOUCAUSTO:
Uma obra muito interessante e diferente do ponto de vista visual. São blocos de pedra bem grande espalhados de forma irregular por um quadra inteira. Fica também próximo ao Portão. O nome é bem auto explicativo ("auto explicativo" é junto ou separado?) HAHA



A ILHA DOS MUSEUS: Não tive a oportunidade de entrar em nenhum museu em Berlin, mas vale a pena um passada por essa pequena ilha que abriga os mais belos museus alemães e a bela e imponente catedral de Berlin (essa da foto abaixo)... tire muitas fotos por lá.

O TACHELES:
Eu não sei quanto a vocês, mas eu curto muito um clima de destruição, prédios decadentes, abandonados... o Tacheles é um desses prédios abandonados que foi ocupado por artistas e transformado numa grande galeria de arte. Eu passei por lá a noite e foi muito legal. Dá medo de entrar... é muito phoda... mas é muito legal a sensação... uma energia meio misteriosa de estar entrando em algum lugar proibido. Recomendo muito!


O CAMPO DE CONCENTRAÇÃO DE SACHSENHAUSEN:
Este está localizado numa cidade chamada Oranienburg, aproximadamente 40 min de Berlin.
Deixei-o por último não por acaso. Por que foi lá que tive a experiência mais... mais... mais... não sei explicar. Foi a experiência "a mais" da minha vida!
Este foi o campo de concentração que serviu de modelo para a construção de todos os outros campos de concentração do regime Nazista. Por lá passaram milhares de Judeus, presos políticos, intelectuais de países inimigos... e por vai.
Para chegar até o campo você precisa pegar um trem, e os trilhos que você usa para se deslocar até lá, são os mesmo trilhos que levaram muitas das vítimas do Holocausto. O dia estava muito frio... frio mesmo! e lá fora uma chuva muito fina fazia, entre o balanço dos trilhos, me deslocar no tempo... a mais de 60 anos atrás, quando se levava os primeiros Judeus.
A estação em que se desce é a última, uma estação pequena, sem ninguém... apenas vento, frio, chuva e árvores de folhas amarelas já caídas pela ação do outono... um clima extremamente depressivo. Um turismo diferente de tudo que já fiz.
Depois você deve embarcar num ônibus que vai te levar até a porta do campo de concentração ( que hoje é um museu e um memorial sobre o Holocausto)
O ônibus me deixa na porta, junto com outros turistas... o frio aumenta... muito muito... já tenho dificuldades em abrir as mãos... os dedos doem.
Uma rápida passagem pela recepção do museu e a visita começa. Para chegar na porta de acesso do campo você precisa caminhar uma trilha de uns 500 metros... a mesma caminhada feita pelos Judeus... impossível não se emocionar.

Mais alguns instantes e a chuva começava a ficar sólida... se metamorfoseando em flocos brancos, que quando tocam na pele é como se pequenas agulhas tocassem na gente... era neve! Neve mesmo! Branca... parecia que o céu estava descendo... e o verde do gramado começa a dar lugar para o branco da neve... muita neve começou a cair. E em questão de minutos o cenário havia se transformado... a cada passo que eu dava pela neve olhava para trás e via minhas pegadas... estava também deixando minha marca lá... fazendo parte da história... vivenciando um período obscuro da história da humanidade, mesmo que agora o campo estivesse branco da neve.

Sempre achei que a história contada sobre o Holocausto tivesse sido um pouco manipulada pelas mãos dos vencedores da guerra... no caso das Américas o Estados Unidos. Sempre questionei um pouco o grau de monstruosidade que foi nos passado. Mas ao chegar lá achei até que amenizaram um pouco ao longo dos anos.
Lá você vai encontrar salas de autópsias, crematórios (os famosos fornos), relatos de vítimas que sobreviveram, a enfermaria, os experimentos na área da medicina... e só piora.

Mas o que pode ter de belo num museu como esse Dian?
De belo? Talvés nada... mas ele está lá... é uma ferida aberta... que na minha opinião deve ser cutucada sempre... pra que nem eu e nem você esqueçamos. A dor não nos deixa dormir, mas pelo menos estaremos acordados quando um outro soldadinho de bom discurso nos dizer que tem a solução rápida pra todos os problemas de uma nação, e que para tal ele precisa de mais poder.. e mais... e mais.. e mais...
Sobre esse soldadinho que me refiro você não vai encontrar absolutamente nada no Campo de SACHSENHAUSEN, tudo o que eu achei foi uma caricatura dele... acho que eles têm medo dele, têm medo das ideias que ele propagou... têm medo que algum dia isso volte... sei lá!
Queria apenas encerrar dizendo que se algum dia você tiver a possibilidade de ir até Berlin, vá até o Campo de SACHSENHAUSEN. Vá lá em busca daquele "soco no estômago" que te faz bem.
Que te deixa de olhos bem abertos.
Talvés eu nunca verei você, amigo, que leu esse texto, mas eu queria dizer que acredito em você! Que seja lá o que você fez na sua vida, se está aqui é por que merece, e ninguém tem o direito de te tirar isso e nem você de alguém.
Abraços emocionados...

Dian Paiani

5 comentários:

Cine disse...

Dian, descreveste maravilhosamente tua viajem. E fez um belo final no teu texto. Como sempre. :)

Airton disse...

Dian, incrível teu blog - as histórias, as fotos, os vídeos (a vinheta!) e os insights! Já adicionei no meu GoogleReader e vigiarei de perto!
A propósito, não tem mesmo que deixar projetos engavetados! Tem mais é que mostrar os vídeos e tudo o mais!

Cami disse...

oi queridao!!!
arrumei tempo pra ver e ler as historias dessa pessoas talentosa q faz falta aki em dublin!!!
adorei tudo q tu escreveu, mto bem, emocionante!!
esse ultimo texto entao, lagrimas rolaram!!
brigada por ter compartilhado as tuas experiencias, serao mto uteis agora, pra mim e todos q lerem!!!
bjao com saudade

Anônimo disse...

Pensar que você não acreditava...muitas pessoas são assim...precisam ir num campo e acreditar...

Anônimo disse...

Realmente vc descreveu muito bem o que sentimos qdo visitamos o campo em Berlim...Estive por lá em dezembro de 2009... Ainda não entendo porque tamanha crueldade, por mais que os livros tentem explicar. Posso reler esse texto várias vezes...não me canso.

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